A peleja de Riachão com o Diabo – Leandro Gomes de Barros

Riachão tava cantando
na cidade do Açu.
Quando apareceu um nego
da espécie de Urubu.
Tinha camisa de solo,
a calça de couro cru

beiços grossos e virados,
como a sola de um chinelo,
um olho muito encarnado
o outro bastante amarelo.
Esse chamou Riachão
para ir cantar martelo

Riachão arrespondeu:
Não canto com nego desconhecido!
Por que pode ser escravo
e ande por aqui fugido.
Isso é dar calda a nambu
e só entra nego inxerido.

Diablo : Eu sou livre como o vento
a minha linhagem é nobre,
com muitos mais ilustrados
que o sol no mundo cobre.
Nasci dentro da grandeza.
Não sai da raça pobre.

Riachão : Você nega por que quer.
Está conhecido demais.
Diga se está fugido.
diga quanto tempo faz?
Se você não for cativo
obra desmente sinais

Diablo : Seja rico seja escravo
eu quero cantar martelo.
Afine sua viola!
Vamo entra num duelo.
Se com minha presença
o senhor ta ficando amarelo

Riachão: Vejo um vulto tão pequeno
que nem posso enxergar.
Parece que não precisa
nem a viola afinar.
Pela ramagem da árvore
vê-se os fruto que ela dá.

By Leandro Gomes de Barros. A part from “Riachão com o Diabo” 1899

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